EVA WILMA
Por: Artur da Távola
Um dos exemplos de forte permanência no estrelato de TV, a despeito de todas as alternativas e mudanças num meio tão voraz é o de Eva Wilma, ainda esta semana em grande evidência nos divertidos capítulos do frustrado casamento de Jordão em “Transas e Caretas”, nos quais a atriz deu lições de versatilidade em comédia.
Eva Wilma consegue o milagre de provir da fase menos prestigiada da televisão, atravessar todo o período em que a mídia era relegada a uma posição de sub-arte e nele permanecer luzindo até hoje, com destaque e respeito artístico. Enfrentou, ainda, como principal fator de audiência o período mais difícil da Rede Tupi da qual era a principal estrela, carregando o público de resistência com o qual a emissora conseguiu as transfusões para viver seus últimos e sofridos sete anos.
Há, portanto, no carisma de Eva Wilma, elementos de fundas relações com o sentir popular, aos quais se somam os dotes artísticos, a tarimba e a total legitimidade para representar a média feminina na audiência.
A atriz domina o comportamento diante das câmeras, sabendo posicionar-se e estimular o desempenho facial no qual ressalta um mecanismo especial de trabalhar olhos e bocas. Os olhos, principalmente, são decisivos na concentração de atenção sobre o que pretende o ator em televisão. Eva Wilma possui um trabalho constante da expressão ocular coadjuvando todos os seus movimentos e dizeres e acrescentando os elementos de namoro coqueteria e comentário com o público que a caracterizam como atriz de interpretação.
A atriz intérprete medeia sua criação com inúmeras mensagens pessoais, solos, virtuosismos, comentários extra-texto através dos quais exerce o seu fascínio ou emite as suas mensagens. Eva Wilma em telecena parece estar sempre proclamando a sagacidade, inteligência e penetração do eterno feminino, numa sociedade dominada por homens. Exibe nos comentários silenciosos com os quais envolve suas personagens o arsenal de artimanhas através do qual a mulher encontra meios não frontais de contornar o efeito esmagador do machismo, acentuando as virtudes da sutileza, percuciência e capacidade da mulher de operar no amor de maneira diferenciada.
Não passa, portanto, Eva Wilma, conceitos ou formas agressivas de protesto. Ela dilui, envolve, desmoraliza até, porém não se opõe de frente ou apõe idéia contra idéia. Essa arte e manha do estratagema agrada à maioria feminina que também não conta com a possibilidade de armas e atitudes radicais. Precisa aceitar as imposições do sistema machista para de dentro dele operar a demolição, ou quando no caso de amor, fraternidade e entendimento, exercitar a compreensão profunda e a enorme capacidade de admiração e por dedicação ao ser amado.
O eterno feminino é, pois, também em Eva Wilma o traço dominante do carisma. Aqui o nome Eva, como símbolo da primeira mulher parece ainda reforçar-lhe os signos. Ela aparece como uma representante competente e estimada das lutas da mulher anônima, no dia a dia pouco glorioso e nada teórico da enorme área conflitiva entre homem e mulher na condição de princípios (masculino e feminino) ao mesmo tempo opostos e complementares.
Os anos de atuação num meio que depende diretamente de comunicação com o público deram a Eva Wilma uma noção muito clara do brilho telegênico. A atriz sabe que a tela é pequena, sem profundidade e o olho do telespectador, volúvel, com forte tendência a logo se cansar. Desenvolve, então, um itinerário de expressões, respirações, alterações de humor e inflexões engenhosas que colorem e fazem brilhar a sua aparição. Consegue aquele tropismo segundo o qual o olhar do telespectador não tem como deixar de segui-la, mantendo-se atado às manifestações de seu brilho cênico. Este é naturalista como a televisão de mercado e nada possui de pomposo ou solene e sim de lúdico, brincalhão. A atriz consegue o estabelecimento do pacto fundamental de ficção através do qual toda a fantasia pode ser verdadeiro.
A capacidade de estabelecer solidariedade profunda e brilhante com o telespectador, é – e teria que ser – o corolário de anos de vivência em televisão, meio no qual a ativação da relação com telespectador precisa se dar em função da importância deste na decisão da audiência apesar de não haver a aquecedora presença física do público.
O ator típico de televisão desenvolve os mecanismos empáticos através dos quais como que adivinha a emoção do telespectador, dele recebendo à distância as cargas aquecedoras indispensáveis ao desencadear da emoção e do “pathos” do ator. Eva Wilma parece haver desenvolvido – em todos esses anos
- uma forma pessoal e sábia de circulação emotiva, feita à distância e com adivinhações, responsável por colocar o ator não perto mas dentro do público pelo recurso do close up e primeiros planos sobre rostos emocionados. É a telepatia, um longe que se faz íntimo e internaliza sentimentos, percepções, afinidades, material estético e dramático do seu repertório de “subjetiverdades”.
Eva Wilma obtém, com todo esse desenvolvimento, simpatia e brilho a ampla e profunda representação do eterno feminino. É, por isso, um exemplo cabal de atriz típica da televisão que assimilou em seu modo de atuar as peculiaridades empáticas do meio e rompe a barreira de preconceitos que envolve o veículo, o que justifica uma carreira brilhante, aceita por todo Brasil em relação à qual nenhuma forma de crítica ou análise lhe pode negar talento, quantidade de obra e as condições carismáticas para o exercício do estrelato despido de qualquer estrelismo.
Mário Filho. Ator de teatro, cinema e TV (DRT 093/MS) formado pela Academia Nacional de Atores, do Rio de Janeiro. Este blog é destinado a aqueles que gostam de estudos teatrais e queiram compartilhar idéias e sugestões. Sinta-se a vontade para enviar seus comentários, todos serão lidos e caso necessário, respondidos no próprio blog.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Entusiasmo – essência da criatividade
ENTUSIASMO - A ESSÊNCIA DA CRIATIVIDADE
Por: Eva Wilma
A essência da criatividade está no entusiasmo que você sente bem dentro de si. Essa criatividade que o ator vai usar com muita técnica, com muito estudo, para transmitir algo para os outros. Para fazer os outros refletirem, pensarem, através da emoção, através do entretenimento, através do divertimento sim, mas, acima de tudo, através da reflexão, da vida para torná-la melhor a todos.
A palavra entusiasmo vem do grego “ente-osmos”, que significa “ter um Deus dentro”. Então, a essência do ator é isto - encontrar um Deus dentro de si. Que vai se transformar em deuses, reis, rainhas, palhaços, bruxas... Por isso dizemos uns para os outros que “Os deuses do teatro nos inspirem e nos protejam”. Por isso que, para mim, os teatros são templos. Templos para refletirmos a vida através de emoções, através da beleza, através de todas as formas de criatividade que o artista, que os artistas encontram – autores , diretores e atores. Agora, no espaço cênico livre, que é o exercício do teatro, é um ser humano diante de seres humanos diretamente e isto vai sobreviver para sempre. Quanto maior a evolução da tecnologia, dos efeitos especiais, do nosso cinema, dos efeitos especiais do genial Spielberg, quanto mais evolua isto, mais vai permanecer como sagrado, a pessoa, o ator diante de uma pessoa. Na sua essência mais pura que, em última análise, vê-se na poética de um grande palhaço, na poética de um grande Chaplin, quando ele está assim purinho, diante de outras pessoas.
Obs.: Vou continuar “esperando Godot” pelo resto da vida. Porque tenho certeza que, se ele não veio hoje, ele virá: no coração de cada um que tiver esperança.
Por: Eva Wilma
A essência da criatividade está no entusiasmo que você sente bem dentro de si. Essa criatividade que o ator vai usar com muita técnica, com muito estudo, para transmitir algo para os outros. Para fazer os outros refletirem, pensarem, através da emoção, através do entretenimento, através do divertimento sim, mas, acima de tudo, através da reflexão, da vida para torná-la melhor a todos.
A palavra entusiasmo vem do grego “ente-osmos”, que significa “ter um Deus dentro”. Então, a essência do ator é isto - encontrar um Deus dentro de si. Que vai se transformar em deuses, reis, rainhas, palhaços, bruxas... Por isso dizemos uns para os outros que “Os deuses do teatro nos inspirem e nos protejam”. Por isso que, para mim, os teatros são templos. Templos para refletirmos a vida através de emoções, através da beleza, através de todas as formas de criatividade que o artista, que os artistas encontram – autores , diretores e atores. Agora, no espaço cênico livre, que é o exercício do teatro, é um ser humano diante de seres humanos diretamente e isto vai sobreviver para sempre. Quanto maior a evolução da tecnologia, dos efeitos especiais, do nosso cinema, dos efeitos especiais do genial Spielberg, quanto mais evolua isto, mais vai permanecer como sagrado, a pessoa, o ator diante de uma pessoa. Na sua essência mais pura que, em última análise, vê-se na poética de um grande palhaço, na poética de um grande Chaplin, quando ele está assim purinho, diante de outras pessoas.
Obs.: Vou continuar “esperando Godot” pelo resto da vida. Porque tenho certeza que, se ele não veio hoje, ele virá: no coração de cada um que tiver esperança.
O Processo de Trabalho do Ator
O PROCESSO DE TRABALHO DO ATOR
Por: Eva Wilma
O ator tem que ter consciência da necessidade do aprimoramento dos seus instrumentos. Da sua técnica.
Ele tem que ter o preparo quase de atleta, preparo vocal, que vai desde a emissão da voz, a projeção dela, a dicção, a empostação, até a articulação. Para ser um intérprete, tem que se liberar de sotaques, para poder faze-los quando necessários. São técnicas de emissão de voz, técnicas de respiração, técnicas de seus instrumentos todos.
E, acima de tudo, tem que aprender a analisar um texto, a mergulhar nele. Grandes mestres já dissecaram isto. Stanislavski, por exemplo, foi um dos primeiros que racionalizou o método do ator.
No Brasil, Eugênio Kusnet (tive o privilégio de ser sua aluna) traduziu para nós o que é o método. Por exemplo, ele deixa claro o processo da “ação contínua”, muito importante na televisão ou cinema, porque temos que ter, com muita clareza, a “ação contínua” na cabeça. Ou seja, em cada cena, temos que saber em que estado estávamos na cena anterior e como é que estaremos na seguinte.
“O texto é a partitura, o diretor é o maestro e o ator o instrumento.”
Isto o ator tem que estudar. Tem que sentar e estudar. Tem que ter isto muito claro, emocional e tecnicamente, até para poder fazer propostas para o diretor, que é o maestro. No trabalho em televisão isto conta muito porque o diretor não tem tempo de acompanhar a “ação contínua” de mais de trinta personagens de uma novela. E isto compete a cada ator, que tem que saber a sua “ação contínua”.
Então, “ação contínua”, “memória emotiva”...O que é memória emotiva? Se o personagem, ao abrir aquela cena, tem que estar num estado de total desespero, aos prantos, como é que o ator entra nesse estado rapidamente? Ele tem que ter um poder enorme de relaxamento e concentração. Tem que se concentrar e mergulhar nas suas vivências. Para ajudar, temos também o esquentamento físico.
Eu, por exemplo, na televisão, como tudo é muito rápido, vou para traz dos cenários e corro de um lado para o outro até esquentar. Depois disso, é soltar as emoções. São várias as técnicas. Isto se aprende na escola. É necessário conhecer tudo isto para se tornar receptivo e, portanto, apto a transmitir emoções, pensamentos, idéias. Para atingir o estado emocional desejado, o ator pode usar experiências da sua vida, paralelas ao momento da vida daquele personagem. Isto é muito importante na televisão e no cinema. No teatro, basta que o ator esteja realmente preparado física e emocionalmente. Antes de entrar em cena, alguns exercícios vocais e físicos ajudarão o relaxamento e a concentração total.
É preciso muito cuidado porque, se entrar em cena para usar a voz em todos os potenciais sem esquentar as cordas vocais, poderá machucá-las. É preciso ter técnica. Quanto mais técnica tivermos, mais poderemos passar emoções.
“A essência do ator é encontrar um Deus dentro de si.”
O ator deve desenvolver equilíbrio perfeito entre técnica e emoção. Quanto maior for o perfeccionismo técnico, mais alto poderemos voar com as emoções.
Uma vez em cena, a “ação contínua” será contínua mesmo e esta é a grande magia do teatro.
Durante o tempo todo do espetáculo, a ação se desenvolverá diretamente diante do público.
Por: Eva Wilma
O ator tem que ter consciência da necessidade do aprimoramento dos seus instrumentos. Da sua técnica.
Ele tem que ter o preparo quase de atleta, preparo vocal, que vai desde a emissão da voz, a projeção dela, a dicção, a empostação, até a articulação. Para ser um intérprete, tem que se liberar de sotaques, para poder faze-los quando necessários. São técnicas de emissão de voz, técnicas de respiração, técnicas de seus instrumentos todos.
E, acima de tudo, tem que aprender a analisar um texto, a mergulhar nele. Grandes mestres já dissecaram isto. Stanislavski, por exemplo, foi um dos primeiros que racionalizou o método do ator.
No Brasil, Eugênio Kusnet (tive o privilégio de ser sua aluna) traduziu para nós o que é o método. Por exemplo, ele deixa claro o processo da “ação contínua”, muito importante na televisão ou cinema, porque temos que ter, com muita clareza, a “ação contínua” na cabeça. Ou seja, em cada cena, temos que saber em que estado estávamos na cena anterior e como é que estaremos na seguinte.
“O texto é a partitura, o diretor é o maestro e o ator o instrumento.”
Isto o ator tem que estudar. Tem que sentar e estudar. Tem que ter isto muito claro, emocional e tecnicamente, até para poder fazer propostas para o diretor, que é o maestro. No trabalho em televisão isto conta muito porque o diretor não tem tempo de acompanhar a “ação contínua” de mais de trinta personagens de uma novela. E isto compete a cada ator, que tem que saber a sua “ação contínua”.
Então, “ação contínua”, “memória emotiva”...O que é memória emotiva? Se o personagem, ao abrir aquela cena, tem que estar num estado de total desespero, aos prantos, como é que o ator entra nesse estado rapidamente? Ele tem que ter um poder enorme de relaxamento e concentração. Tem que se concentrar e mergulhar nas suas vivências. Para ajudar, temos também o esquentamento físico.
Eu, por exemplo, na televisão, como tudo é muito rápido, vou para traz dos cenários e corro de um lado para o outro até esquentar. Depois disso, é soltar as emoções. São várias as técnicas. Isto se aprende na escola. É necessário conhecer tudo isto para se tornar receptivo e, portanto, apto a transmitir emoções, pensamentos, idéias. Para atingir o estado emocional desejado, o ator pode usar experiências da sua vida, paralelas ao momento da vida daquele personagem. Isto é muito importante na televisão e no cinema. No teatro, basta que o ator esteja realmente preparado física e emocionalmente. Antes de entrar em cena, alguns exercícios vocais e físicos ajudarão o relaxamento e a concentração total.
É preciso muito cuidado porque, se entrar em cena para usar a voz em todos os potenciais sem esquentar as cordas vocais, poderá machucá-las. É preciso ter técnica. Quanto mais técnica tivermos, mais poderemos passar emoções.
“A essência do ator é encontrar um Deus dentro de si.”
O ator deve desenvolver equilíbrio perfeito entre técnica e emoção. Quanto maior for o perfeccionismo técnico, mais alto poderemos voar com as emoções.
Uma vez em cena, a “ação contínua” será contínua mesmo e esta é a grande magia do teatro.
Durante o tempo todo do espetáculo, a ação se desenvolverá diretamente diante do público.
A Evolução do Ator
A EVOLUÇÃO DO ATOR
Por: Eva Wilma
Evoluir enquanto ator é não permitir que seu trabalho se cristalize e vire uma mesmice. É você descobrir coisas novas dentro de suas potencialidades de ator. É continuar desenvolvendo seu trabalho, é continuar descobrindo novos gestos, novas possibilidades de interpretar. Mais de mil personagens que surgiram ou que poderão surgir ainda. E é isto que me alimenta a criatividade. É a possibilidade infinita de novas descobertas, novas maneiras de me doar. Porque o ofício do ator, na essência, é uma doação. A gente está se doando, está se dando todo o seu ser, todos os seus nervos, músculos, todo seu pensamento, a sua mente, seu raciocínio. Repetindo o que eu gosto de dizer sempre: o texto é a partitura, o diretor é o maestro e o ator o instrumento. Então, eu quero ter a possibilidade de ser muitos instrumentos. Eu quero, como atriz, em um momento conseguir vibrar no “pianíssimo”, outra hora dar o som cheio, a gravidade do “cello”, e outra hora atingir o virtuossismo do primeiro violino, do espala... Eu quero conseguir esta forma de realização. Porque isto me proporciona uma alegria imensa.
Por: Eva Wilma
Evoluir enquanto ator é não permitir que seu trabalho se cristalize e vire uma mesmice. É você descobrir coisas novas dentro de suas potencialidades de ator. É continuar desenvolvendo seu trabalho, é continuar descobrindo novos gestos, novas possibilidades de interpretar. Mais de mil personagens que surgiram ou que poderão surgir ainda. E é isto que me alimenta a criatividade. É a possibilidade infinita de novas descobertas, novas maneiras de me doar. Porque o ofício do ator, na essência, é uma doação. A gente está se doando, está se dando todo o seu ser, todos os seus nervos, músculos, todo seu pensamento, a sua mente, seu raciocínio. Repetindo o que eu gosto de dizer sempre: o texto é a partitura, o diretor é o maestro e o ator o instrumento. Então, eu quero ter a possibilidade de ser muitos instrumentos. Eu quero, como atriz, em um momento conseguir vibrar no “pianíssimo”, outra hora dar o som cheio, a gravidade do “cello”, e outra hora atingir o virtuossismo do primeiro violino, do espala... Eu quero conseguir esta forma de realização. Porque isto me proporciona uma alegria imensa.
O Ofício de Ser Ator
O OFÍCIO DE SER ATOR
Por: Eva Wilma
O ator se comunica de corpo e alma inteiros no espaço cênico livre. Eu digo livre porque pode ser no palco, pode ser no picadeiro, pode ser no teatro de rua, pode ser até mesmo numa sala. Mas será sempre um ser humano que se comunica diretamente com outros seres humanos.
O teatro para mim é uma coisa sagrada. Ele pertence ao ator. Embora você passe pelo texto que é a partitura, pelo diretor, que é o maestro, na hora da execução da obra, o ator é pleno em cena aberta. Ele é absoluto. Por isso, dizemos que no teatro, você pode ser um rei, uma princesa, uma mendiga, pode ser tudo. E você reina, no espaço da imaginação e da criatividade. Esta realização é indescritível. Então, a gente diz que o teatro é do ator.
“Quem vive na ilusão de que entrar na televisão é fácil, primeiro tem que estudar muito.”
No cinema, quem realiza mais é o diretor, porque se filma por cenários. Às vezes, o trabalho começa na cena final do filme, depois passa para a cena do meio. Na televisão também é assim e de uma forma absurdamente rápida. Costumamos dizer brincando que o teatro pertence ao ator, o cinema ao diretor e a televisão, em última análise, pelo menos a TV aberta, ao patrocinador.
A carreira do ator, se colocar em termos percentuais, é constituída de 10% de talento, vocação, intuição; 85% de trabalho, perseverança, esforço, disciplina e muito estudo; e 5% de sorte. O ator tem que aprender seu ofício na escola. Poderá até escolher um bom curso profissionalizante mas o ideal, após a conclusão do Ensino Médio, é prestar vestibular e entrar para a Escola de Arte Dramática – EAD, aqui em São Paulo, que fica na ECA – Escola de Comunicação e Artes, na USP.
Tem que começar por aí, e saber que é uma carreira dificílima, até porque não existe mercado de trabalho. Tem que ter muito idealismo e muito pé no chão. Ao mesmo tempo que faz a faculdade, tem que tentar praticar. Como? Pesquisando os grupos de teatro profissional e alternativos e formando seu próprio grupo de teatro, seja na escola, no clube, em casa... E exercer seu ofício. Tem que praticar.
Então, as pessoas que escrevem “me arranja um papel” e vivem naquela ilusão de que entrar na televisão é muito fácil, primeiro, têm que estudar mesmo e têm que se formar ator, e isto é um sacrifício muito grande em nosso país. E precisam ter consciência de que em nosso mercado há uma guerra de faca e foice. Viver do ofício de ator em nosso país é muito difícil, é muito complicado. Aqueles que sobrevivem disto são heróis. E eu me coloco entre eles e tenho muito orgulho disso. De ter conseguido sobreviver, muitas vezes até como arrimo de família, exclusivamente do meu ofício de atriz.
Mas a custa do quê? De muitas vezes ter feito teatro e televisão simultaneamente. De encarar a dupla, a tripla e a quádrupla jornada de trabalho e mantendo a seriedade. Em 1976, às vésperas da TV Tupi falir, eu me propus a produzir uma peça, pela primeira vez, de minha iniciativa. Porque até então eu tinha co-produzido circunstancialmente. Eu queria estrear com um texto que me falasse à alma. Não consegui texto brasileiro porque nós ainda estávamos em plena censura e a maioria dos bons autores brasileiros censurados. Em minhas mãos caiu o "Esperando Godot", de Beckett, na tradução de Flávio Rangel. Imediatamente me apaixonei. O texto tem a poética do circo, tem a essência do teatro do absurdo, que fala sobre o nada, mas que mantém acesa a utopia. Porque um texto que fala que o Godot não veio hoje, mas vem amanhã sem falta. A palavra Godot vem de Deus, God, e é unida também com Charlô, de Charles Chaplin.
É por aí que Beckett inventou este personagem que na peça não aparece e a gente passa o tempo todo esperando. Este God, tão poético como os personagens todos que o Chaplin criou. Durante todo o espetáculo espera-se por ele e vem sempre um emissário que diz: “O senhor Godot mandou dizer que não pode vir hoje, mas que virá amanhã sem falta”.
A idéia de montar o texto inteiramente com mulheres foi a primeira no mundo. Convidei Lílian Lemmertz para minha parceira, e nos convidamos Antunes Filho para dirigir e Marcos Franco para co-produzir conosco. Contratamos duas atrizes geniais, Lélia Abramo e Maria Iuma. Sem conseguirmos casa de espetáculo em São Paulo e no Rio, nas datas que desejávamos, resolvemos estrear em Brasília. Tenho a grata lembrança, em meus recortes de como a imprensa saudou o nosso espetáculo. Uma das manchetes era “As flores e frutos de Eva”. Eles estavam se referindo à ousadia da concepção do nosso espetáculo.
“Evoluir enquanto ator é não permitir que seu trabalho se cristalize e vire uma mesmice.”
O nosso Esperando Godot equivalia ao Esperando a Democracia. Até mesmo o texto do Antunes, no programa da peça, se entitulava Esperando a Democracia. Isto em maio de 1977, em Brasília, foi um acontecimento! Durante toda a semana, o público lotou o teatro, os estudantes vibraram.
De Brasília voamos direto para Manaus e de lá viemos descendo. Tínhamos o apoio de passagem para a equipe, transporte para cenários e os teatros agendados. E só. Em todas as cidades, eu me dirigia à Secretária de Cultura para pedir a estadia. Éramos uma equipe de nove pessoas. Fizemos 17 capitais e mais 13 cidades. Em quase todos os lugares, consegui estadia total. Houve uma só cidade, João Pessoa, na Paraíba, em que o secretário pediu em troca três palestras para os grupos de teatro locais.
Considerei como um presente a mais, esta grande troca. Hoje, existe lá um grupo famoso no mundo com um espetáculo chamado “Vau da Sarapalha”. Foi premiado no exterior. É um grupo idealista formado por atores que, provavelmente, para ganhar a vida, têm que exercer outros ofícios também.
Então, o que é ser ator? Ser ator é isto. É essa batalha toda. É se equilibrar na corda bamba mesmo.
Por: Eva Wilma
O ator se comunica de corpo e alma inteiros no espaço cênico livre. Eu digo livre porque pode ser no palco, pode ser no picadeiro, pode ser no teatro de rua, pode ser até mesmo numa sala. Mas será sempre um ser humano que se comunica diretamente com outros seres humanos.
O teatro para mim é uma coisa sagrada. Ele pertence ao ator. Embora você passe pelo texto que é a partitura, pelo diretor, que é o maestro, na hora da execução da obra, o ator é pleno em cena aberta. Ele é absoluto. Por isso, dizemos que no teatro, você pode ser um rei, uma princesa, uma mendiga, pode ser tudo. E você reina, no espaço da imaginação e da criatividade. Esta realização é indescritível. Então, a gente diz que o teatro é do ator.
“Quem vive na ilusão de que entrar na televisão é fácil, primeiro tem que estudar muito.”
No cinema, quem realiza mais é o diretor, porque se filma por cenários. Às vezes, o trabalho começa na cena final do filme, depois passa para a cena do meio. Na televisão também é assim e de uma forma absurdamente rápida. Costumamos dizer brincando que o teatro pertence ao ator, o cinema ao diretor e a televisão, em última análise, pelo menos a TV aberta, ao patrocinador.
A carreira do ator, se colocar em termos percentuais, é constituída de 10% de talento, vocação, intuição; 85% de trabalho, perseverança, esforço, disciplina e muito estudo; e 5% de sorte. O ator tem que aprender seu ofício na escola. Poderá até escolher um bom curso profissionalizante mas o ideal, após a conclusão do Ensino Médio, é prestar vestibular e entrar para a Escola de Arte Dramática – EAD, aqui em São Paulo, que fica na ECA – Escola de Comunicação e Artes, na USP.
Tem que começar por aí, e saber que é uma carreira dificílima, até porque não existe mercado de trabalho. Tem que ter muito idealismo e muito pé no chão. Ao mesmo tempo que faz a faculdade, tem que tentar praticar. Como? Pesquisando os grupos de teatro profissional e alternativos e formando seu próprio grupo de teatro, seja na escola, no clube, em casa... E exercer seu ofício. Tem que praticar.
Então, as pessoas que escrevem “me arranja um papel” e vivem naquela ilusão de que entrar na televisão é muito fácil, primeiro, têm que estudar mesmo e têm que se formar ator, e isto é um sacrifício muito grande em nosso país. E precisam ter consciência de que em nosso mercado há uma guerra de faca e foice. Viver do ofício de ator em nosso país é muito difícil, é muito complicado. Aqueles que sobrevivem disto são heróis. E eu me coloco entre eles e tenho muito orgulho disso. De ter conseguido sobreviver, muitas vezes até como arrimo de família, exclusivamente do meu ofício de atriz.
Mas a custa do quê? De muitas vezes ter feito teatro e televisão simultaneamente. De encarar a dupla, a tripla e a quádrupla jornada de trabalho e mantendo a seriedade. Em 1976, às vésperas da TV Tupi falir, eu me propus a produzir uma peça, pela primeira vez, de minha iniciativa. Porque até então eu tinha co-produzido circunstancialmente. Eu queria estrear com um texto que me falasse à alma. Não consegui texto brasileiro porque nós ainda estávamos em plena censura e a maioria dos bons autores brasileiros censurados. Em minhas mãos caiu o "Esperando Godot", de Beckett, na tradução de Flávio Rangel. Imediatamente me apaixonei. O texto tem a poética do circo, tem a essência do teatro do absurdo, que fala sobre o nada, mas que mantém acesa a utopia. Porque um texto que fala que o Godot não veio hoje, mas vem amanhã sem falta. A palavra Godot vem de Deus, God, e é unida também com Charlô, de Charles Chaplin.
É por aí que Beckett inventou este personagem que na peça não aparece e a gente passa o tempo todo esperando. Este God, tão poético como os personagens todos que o Chaplin criou. Durante todo o espetáculo espera-se por ele e vem sempre um emissário que diz: “O senhor Godot mandou dizer que não pode vir hoje, mas que virá amanhã sem falta”.
A idéia de montar o texto inteiramente com mulheres foi a primeira no mundo. Convidei Lílian Lemmertz para minha parceira, e nos convidamos Antunes Filho para dirigir e Marcos Franco para co-produzir conosco. Contratamos duas atrizes geniais, Lélia Abramo e Maria Iuma. Sem conseguirmos casa de espetáculo em São Paulo e no Rio, nas datas que desejávamos, resolvemos estrear em Brasília. Tenho a grata lembrança, em meus recortes de como a imprensa saudou o nosso espetáculo. Uma das manchetes era “As flores e frutos de Eva”. Eles estavam se referindo à ousadia da concepção do nosso espetáculo.
“Evoluir enquanto ator é não permitir que seu trabalho se cristalize e vire uma mesmice.”
O nosso Esperando Godot equivalia ao Esperando a Democracia. Até mesmo o texto do Antunes, no programa da peça, se entitulava Esperando a Democracia. Isto em maio de 1977, em Brasília, foi um acontecimento! Durante toda a semana, o público lotou o teatro, os estudantes vibraram.
De Brasília voamos direto para Manaus e de lá viemos descendo. Tínhamos o apoio de passagem para a equipe, transporte para cenários e os teatros agendados. E só. Em todas as cidades, eu me dirigia à Secretária de Cultura para pedir a estadia. Éramos uma equipe de nove pessoas. Fizemos 17 capitais e mais 13 cidades. Em quase todos os lugares, consegui estadia total. Houve uma só cidade, João Pessoa, na Paraíba, em que o secretário pediu em troca três palestras para os grupos de teatro locais.
Considerei como um presente a mais, esta grande troca. Hoje, existe lá um grupo famoso no mundo com um espetáculo chamado “Vau da Sarapalha”. Foi premiado no exterior. É um grupo idealista formado por atores que, provavelmente, para ganhar a vida, têm que exercer outros ofícios também.
Então, o que é ser ator? Ser ator é isto. É essa batalha toda. É se equilibrar na corda bamba mesmo.
O que é Ser Ator?
O QUE É SER ATOR
Por Eva Wilma
Minha trajetória no palco começou com a dança. Eu estava prestes a me tornar uma bailarina clássica quando fiz uma das escolhas mais difíceis em minha vida – lembro-me como se fosse hoje -, deixar meu projeto de ser uma bailarina clássica, porque eu sabia que, para concretizá-lo, teria que sair do país. Optei por ficar e ir à luta pela sobrevivência, aos dezoito anos de idade. Optei por continuar com o balé dentro e fora de mim, falando, representando. Escolhi o ofício de ser atriz.
Tinha recebido três convites simultâneos: pertencer ao Teatro de Arena, o primeiro grupo da América Latina, do José Renato. Ficamos dois anos fazendo teatro em fábricas, em casas particulares, em clubes, até construirmos a nossa sala de espetáculo, o atual Teatro de Arena Eugênio Kusnet. O segundo foi um contrato de cinema de dois anos e, por último, um contrato de televisão de um ano para um programa chamado “Namorados de São Paulo” que depois se transformou em “Alô Doçura” e durou dez anos no ar.
De lá para cá foram mais de 45 anos fazendo teatro, cinema e televisão. Saí do palco para o picadeiro (a Arena), portanto tenho uma noção muito clara do ofício do ator. Até me angustia o fato de receber muitas cartas, do Brasil inteiro, com cerca de 80% delas dizendo: “quero trabalhar na televisão, me arranja um caminho”. A televisão, como dizia Stanislaw Ponte Preta, nosso saudoso Sérgio Porto, “esta máquina de fazer doido” veio para ficar. Ela é uma força de comunicação de massa muito grande e ilude as pessoas. E isto me angustia muito porque é preciso que as pessoas saibam o que é realmente o exercício do ofício de ator.
Por Eva Wilma
Minha trajetória no palco começou com a dança. Eu estava prestes a me tornar uma bailarina clássica quando fiz uma das escolhas mais difíceis em minha vida – lembro-me como se fosse hoje -, deixar meu projeto de ser uma bailarina clássica, porque eu sabia que, para concretizá-lo, teria que sair do país. Optei por ficar e ir à luta pela sobrevivência, aos dezoito anos de idade. Optei por continuar com o balé dentro e fora de mim, falando, representando. Escolhi o ofício de ser atriz.
Tinha recebido três convites simultâneos: pertencer ao Teatro de Arena, o primeiro grupo da América Latina, do José Renato. Ficamos dois anos fazendo teatro em fábricas, em casas particulares, em clubes, até construirmos a nossa sala de espetáculo, o atual Teatro de Arena Eugênio Kusnet. O segundo foi um contrato de cinema de dois anos e, por último, um contrato de televisão de um ano para um programa chamado “Namorados de São Paulo” que depois se transformou em “Alô Doçura” e durou dez anos no ar.
De lá para cá foram mais de 45 anos fazendo teatro, cinema e televisão. Saí do palco para o picadeiro (a Arena), portanto tenho uma noção muito clara do ofício do ator. Até me angustia o fato de receber muitas cartas, do Brasil inteiro, com cerca de 80% delas dizendo: “quero trabalhar na televisão, me arranja um caminho”. A televisão, como dizia Stanislaw Ponte Preta, nosso saudoso Sérgio Porto, “esta máquina de fazer doido” veio para ficar. Ela é uma força de comunicação de massa muito grande e ilude as pessoas. E isto me angustia muito porque é preciso que as pessoas saibam o que é realmente o exercício do ofício de ator.
Não está na hora do SATED/MS?
MAGDALENA RODRIGUES
Atriz e Presidente do SATED/MG (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões)Faça você mesmo um comparativo com a nossa realidade em Mato Grosso do Sul. Você concorda que estamos mais do que prontos para um SATED em MS??!
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Abraços!!!
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