segunda-feira, 15 de outubro de 2012

TEATRO DE RUA


Precisamos ir para as ruas!
Temos de destruir esta arquitetura que separa os homens.
Temos de ir em direção ao homem na rua para fazer
com que ele conheça suas possibilidades de ser. 

(Julian Beck)

Breve história
O teatro nasceu na rua. Os ditirambos percorriam as ruas da Grécia antiga em homenagem a Dioniso, deus do vinho e do teatro. Mais tarde, os saltimbancos percorriam as feiras com suas carroças, levando sua arte as aldeias e vilas, o que veio a contribuir, no fim da Idade Média, na construção das cidades européias. O tempo passou e o teatro edificou-se, separando seu público em frisas, balcões e camarotes e, sob todos eles... a platéia. Dessa forma alterou seu discurso e sua função. Mas o teatro de rua permanece, resiste. Ele é instrumento vivo de reflexão e transformação de nossa história.

Na rua a comunicação é direta. O mote é claro: transgressão e síntese. As cenas tratam de temas do cotidiano e universais. O artista não está acima do público e sim debatendo, interagindo com ele. No
teatro de rua tudo pode e a interferência do espectador é bem-vinda.

A cidade de São Paulo tem hoje, dezenas de grupos que trabalham com o teatro de rua e cada vez mais grupos estão descobrindo essa linguagem e buscando espaços abertos para comunicar-se com seu
público.

O teatro de rua tem-se revelado cada vez mais como linguagem de busca e de experimentação dos atores. Este local é democrático por natureza – pois nada prende o público, a não ser a dinâmica do
espetáculo –, exigindo dos atores técnicas específicas e uma maneira apropriada de relacionar-se com o espectador, distinta da frontalidade apresentada no palco. Estes recursos vão desde a eliminação total da
quarta parede a ampliação de sua projeção vocal, exigindo também uma maior expansão corporal e a fusão de técnicas como o circo e a dança.

A rua não pode ser apenas um corredor de passagem, deve ser também lugar de comunhão e de fruição das artes. O teatro de rua tem um importante significado nessa conquista.

Definição
Podemos definir teatro de rua como um “Teatro que se produz em locais exteriores às construções tradicionais: rua, praça, mercado, metrô, universidade, etc.” (PAVIS, 1999, p.385). É uma forma teatral que possui suas origens na antiguidade, o teatro nasceu no espaço aberto e desde a Grécia Antiga colocou na cena os problemas da polis e dos cidadãos. Teatro e cidade sempre foram ligados, numa relação amigável ou conflituosa, mas um sempre se serviu ou serviu ao outro durante vários séculos, profissionalizou-se no Renascimento e seguindo a burguesia criou-se o espaço teatral restrito ou edifício teatral que acabou sendo uma forma de elitizar o teatro.

As motivações para se optar pelo teatro de rua são as mais variadas, desde uma tentativa de levar o teatro às pessoas que não tem acesso ao fazer teatral convencional, até uma forma de teatro político, Amir Haddad fala que: “ao fazer teatro na rua, descobri uma possibilidade nova de platéia que eu não conhecia: a platéia heterogênea.” As pessoas que vêem as peças pela cidade são pessoas das mais diversas faixas etárias, classes sociais e mentalidade, este é um dos fatores interessantes do teatro de rua, ele tem de ser criado de forma que trabalhe com sua variedade de público.

O teatro de rua ocupa as áreas abertas fazendo delas seu espaço cênico. No entanto, esses lugares são dotados de significados, inscrevem parte da história da cidade, portanto, devem ser pensados em toda a sua amplitude para que possam ser bem utilizados. Ele, não esqueçamos, é uma interferência no espaço e ao interferir, ele re-significa o espaço, tornando-o propício a fruição.

Apesar de ser uma forma normalmente menosprezada de teatro, pois as pessoas, até aquelas que nunca foram ao teatro, têm em mente o palco italiano, ou até por ser pensado também como uma forma de agitação social, o teatro de rua acaba não sendo visto de forma correta e que abranja toda sua grandeza. Quando falamos de teatro de rua, estamos falamos de uma forma de descentralizar o teatro, levá-lo às mais distintas pessoas e lugares, estamos falando em humanizá-lo, de botar o ator em contato direto com o público, de ligar ator e público podendo transformá-los em uma coisa só, fazendo com que o espetáculo receba interferência, mas também entre na vida das pessoas. E nesses tempos em que tudo parece mais veloz, a rua mais agressiva e pela qual devamos passar rapidamente, o teatro pode se colocar como um elemento interruptor dessa agonia moderna, levando o passante a sonhar e a refletir sobre sua condição de sujeito histórico dentro da cidade.

História do Teatro de Rua no Brasil
O primeiro registro de teatro de rua contemporâneo no Brasil data de 1946, uma iniciativa que envolveu nomes como Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna. A partir desse momento, a história de tal manifestação encontra parada obrigatória também em 1961, com a criação do Movimento de Cultura Popular (MPC), em Pernambuco – por Paulo Freire e o próprio Suassuna, entre outros –, e pelo surgimento, no mesmo ano, do Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, capitaneado por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha.

Entre as influências na estética do teatro de rua, além da já citada commedia dell’arte, é forte a presença da exuberância visual do circo tradicional e a incomparável habilidade de comunicação de manifestações populares como o maracatu – folguedo nordestino, sobretudo da região de Pernambuco. “É possível usar várias formas de linguagem no teatro de rua”,

Os papéis de público e atores também sofrem interessantes mudanças no teatro de rua em relação ao encenado no edifício teatral. A ausência do palco aproxima os lados, enquanto o tom de constante intervenção permeia as apresentações. Afinal, se por um lado um espetáculo pode mexer com o cotidiano da cidade e seus transeuntes, por outro esses mesmos passantes podem – e vão – intervir nas cenas

Esse movimento, por sua vez, contribui para a relação do cidadão com a cidade, uma vez que, quando um indivíduo assiste a um espetáculo na praça, ele está também usufruindo um espaço público de convívio urbano. “Ou seja, é a convivência de todos numa praça ou mesmo nas ruas que faz com que elas sejam efetivamente de todos. E o teatro de rua é um dos instrumentos para isso.”

Nos dias atuais existem vários festivais de teatro de rua, assim como mostras e discussões sobre os trabalhos em todo o território nacional e internacional, e através deles estão sendo discutidas e criadas cada vez mais bibliografias e discussões sobre processos criativos de teatro de rua, o que é muito importante para torná-lo uma arte menos discriminada e mais entendida por todos.

Podemos dizer então que o teatro de rua é uma forma extremamente expressiva e pouco valorizada, no nosso país, de levar cultura a pessoas que nem sempre tem acesso à ela, e de expor opiniões, sejam elas políticas ou não, à sociedade.


Teatro de Rua em MS

O Grupo Teatro Imaginário Maracangalha atua desde 2006 , é formado por atores com experiência em linguagens diversas.


























Por opção estética trabalha a pesquisa em teatro de rua e espaços não convencionais, para encenação numa perspectiva crítica e provocadora, com isso amplia o conceito de acesso as artes cênicas, circulando por ambientes que independem da caixa cênica tradicional para compartilhar conteúdo e arte. O formato 360º e os cortejo são marcas tradicionais do TIM.

Por R$ 10,00, os atores alugam uma moto equipada com som e assim vão divulgando nos bairros o espetáculo de logo mais. Nada é cobrado, uma condição imposta pelo teatro Imaginário Maracangalha.

Eles fazem arte pública, de graça, para quem quiser. “O público corresponde, sempre vai, assiste e aplaude. Acredito que a população seja subestimada, pois eles querem ver coisas diferentes, e a arte tem o poder de reconhecimento”, avalia o ator Fernando Cruz.

São 20 artistas entre produtores e atores, que você já deve ter visto alguma vez em cortejos pela cidade, em feiras livres, praças ou ruas.

As roupas foram doadas pela escola de samba Igrejinha, outras produzidas com o colorido que fala do Brasil, de Mato Grosso do Sul, e vai pontuando a ocupação artística com música, dança e teatro.

Na cabeça de Fernando, o grupo começou a ser formado na infância, alimentado graças a um espetáculo circense e a estrofe “Eu vou para Maracangalha, eu vou...”, de Dorival Caymmi.

Com sede montada, o espaço parece coisa de família. Um lugar de diversão, criação e formação de gente que vai chegando, encantada com o teatro de rua.

A ideia principal é de arte compartilhada, democratizada,o que significa também dividir com os interessados o que os mais experientes sabem, acabar com qualquer possibilidade de hierarquia e fazer do afeto o comandante nas relações dentro do grupo.

Há curso de teatro, com duração de um ano, e depois, quem decidir, pode continuar incorporado ao trabalho. Assim, o grupo vive já há 6 anos, sempre crescendo

“Nós somos um coletivo, onde todos fazem um pouco de tudo, ajudando a manter o espaço, ajudando com os projetos, com idéias, sugestões”, resume a atriz Camilah Brito, 26 anos.

Mas como ninguém quer morrer de fome, o grupo é mais um em busca de financiamento público. Todos defendem governo e prefeitura como únicas fontes corretas de viabilização de cultura.

Dessa forma, com recursos da Fundação Municipal de Cultura, já montaram “Tekoha - Ritual de vida e morte do Deus Pequeno”, sobre o exemplo da resistência indígena na figura de Marçal de Souza.

Mas mesmo sem recursos liberados, eles não param de encenar, e seguem com cortejos pela cidade e sarobás, reuniões com arte e escambo, onde além da cultura há uma espécie de laboratório de comportamento, que incentiva as pessoas ao desapego, ao deixar para outro o que não lhe tem serventia.

Algumas montagens do Maracangalha: "Conto da Cantuária"- Foto de Jefersom Ravedutti, "Amar é", "Tekoha - Ritual de Vida e Morte do Deus Pequeno", entre outras.
Circo do Mato

O Circo do Mato é um grupo independente composto por artistas sul-mato-grossenses com vasta experiência nas artes cênicas, que atuam na área artística desde os anos 98/99.

Iniciou seus trabalhos informalmente em 1999 com o nome “Cia Atroá”; em 2003, funda a Casa Teatro Circo – CTC em parceria com outro grupo, com sede em Campo Grande/MS; em 2004 funda juridicamente o Circo Atro Mínimo (atual Circo do Mato), sendo objeto de estudo e pesquisa de acadêmicos de Comunicação Social – Relações Publicas da UCDB de 2003 a 2005, de onde saiu sua Produtora Executiva, Laila Pulchério que atua com o grupo até hoje. Neste período o grupo se mantém através de espetáculos, intervenções artísticas em eventos de naturezas diversas e com os temáticos Cabarés mensais. A partir de 2008 passa a ser o único grupo a compor a CTC e começa a utilizar seu nome (Circo do Mato) na divulgação dos trabalhos.

Os artistas do Circo do Mato desenvolvem um permanente trabalho de pesquisa e estudo nas artes cênicas. Há uma grande troca de conhecimentos entre seus componentes e a busca pelo melhor é uma constante por meio de cursos que fazem no estado e fora dele.

Alguns de seus membros passaram pela Escola Nacional de Circo na cidade do Rio de Janeiro e todos estão em constante aperfeiçoamento em cursos de capacitação na área de teatro e circo. Incluindo pesquisas de nível universitário, como a dissertação de mestrado defendida em 2010, por Aline Duenha, componente do núcleo, com foco na dramaturgia de Oduvaldo Vianna Filho.

Seus artistas e produtores são membros do Colegiado Setorial de Teatro de Campo Grande, e seu presidente, Mauro Guimarães, do Colegiado Nacional de Circo (biênio 2010/2011).

Sua sede é equipada para treinamentos circenses e usada para ensaios, treinos, reuniões, Mesas redondas, oficinas de teatro e circo, debates políticos-culturais, além de montagem de espetáculos do próprio grupo e de outros.

Com suas produções – espetáculos – participou em festivais estaduais, nacionais e internacionais, tendo se apresentado nos países sul-americanos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru.
Promove o “I Intercâmbio entre o Circo Tradicional e o Novo Circo” em 2008 marcado por uma apresentação das duas correntes no Circo Real Pantanal (Família Perez) .

No mesmo ano, em parceria com o grupo Flor e Espinho Teatro, produz a PANTALHAÇOS Mostra de Palhaços do Pantanal – pantalhacos.blogspot.com – que em suas II e III edições foi contemplado pelo FMIC e em 2012, foi contemplado com o Prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo – FUNARTE / MinC / Petrobrás e ainda financiado pela Caixa, sendo esta edição, ampliado para AMÉRICA DO SUL.

Participa do Circuito Sul-mato-grossense de Teatro desde seu inicio em 2009 e ainda de várias edições dos importantes Festivais estaduais, Festival América do Sul e Festival de Inverno de Bonito.

Em 2010, passa a fazer parte da Rede Morena de Pontos de Cultura com o Ponto de Cultura Circo do Mato; um convênio: FUNDAC, Pref. De Campo Grande, Cultura Viva e MinC, onde propõe oficina de teatro e circo para alunos da rede pública de ensino e interessados, totalmente gratuita.

O Circo do Mato vem aperfeiçoando-se na realização de eventos artisticamente relevantes acreditando estar, dessa forma, cumprindo sua missão institucional de apresentar trabalhos culturalmente relevantes para a sociedade.

Produziu os espetáculos:
O CIRCO DO PÉ DE ÁRVORE
O PALHACO NO ½ DA RUA
ENCRUZILHADA O ÚLTIMO CABARÉ
OS CORCUNDAS


Grupo de Teatro Identidade
O Grupo de Teatro Identidade é desenvolvido desde 2005 na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus de Três Lagoas, surgiu para efetivar um projeto de extensão com atividades teatrais no âmbito acadêmico, direcionado para a comunidade em geral.

O grupo de teatro conta com a participação anual de aproximadamente 30 (trinta) pessoas, dentre elas, acadêmicos da UFMS, estudantes de escolas do município e pessoas da comunidade, presentes nos encontros, oficinas e ensaios. As atividades visam desenvolver as habilidades do teatro entre os participantes, estimulando-os para que cada qual explore sua potencialidade, e posteriormente colocando em prática com o grupo, identificando sua capacidade corporal, vocal e interpretativa direcionadas ao teatro. A formação de um grupo de teatro dentro da universidade trouxe uma rotina diferenciada das demais, na qual, as diversas atividades teatrais, aplicadas aos participantes e nos espetáculos idealizados, motivam à reflexão da comunidade perante o tema abordado, capacitando tanto ao meio teatral como no cotidiano dos espectadores.

O Grupo de Teatro Identidade promove a inserção do setor público no processo de desenvolvimento cultural dos participantes com a implementação de oficinas e jogos teatrais direcionadas à integração dos mesmos, à produção artístico-cultural com a promoção da interação/integração dos integrantes e, posteriormente, com as apresentações artísticas para a comunidade.

Com o desenvolvimento do Grupo, as pessoas envolvidas entregam-se ao ramo das artes cênicas, entendendo-as como sendo uma ocupação que traz um conhecimento complementar. Os participantes realizam um ato de entrega e de submissão ao ofício de ser ator/atriz.

O principal fundamento do “Grupo de Teatro Identidade” é de trabalhar fluentemente para a elaboração de Espetáculos e Esquetes Teatrais, Atividades Culturais e Recreativas, Eventos do Setor Cultural, para serem destinados e desenvolvidos à comunidade em geral.

O Grupo de Teatro Identidade conta atualmente com o apoio, além da UFMS, da Prefeitura de Três Lagoas através do Departamento de Cultura, desenvolve a Extensão na UFMS, e idealiza a Escola Municipal de Teatro de Três Lagoas.

Espetáculo de rua "O Viajante, Grupo Identidade de Três Lagoas.

Gêneros teatrais no teatro de rua
No teatro de rua, praticamente todos os gêneros podem ser explorados, tais como: drama, comédia, farsa, autos, melodrama, tragicomédia, tragédia, etc.

A característica marcante, é que independente do gênero, a grande maioria possui apelo popular, a fim de criar um vínculo entre o expectador e os atores, visando principalmente a formação de público e a inserção de uma parcela excluída da população aos meios culturais ligados ao teatro, sendo essa em alguns casos, o primeiro quando não o único contato dessa parcela da população com o teatro.