Teatro: espaço de realizações. Realizar: perceber. Conceber a idéia de que há algo a mais dentro de um mesmo espaço, de um ambiente, seja ele, físico, mental ou sentimental.
Lugar para percepção de idéias, de sentimentos, de fisicalidades.
Lugar para a recepção de idéias, de sentimentos, de fisicalidades.
Espaço para o simples jogo dialético do aprender e do ensinar. Espaço para viver.
Não há mais lugares para viver. Não há mais lugares para sentir.
O ser humano não sabe mais ser, humano.
Todo olhar se desvia; toda mão se fecha. Os corpos não mais se tocam!
Há uma afastamento, um distanciamento, um alienamento das idéias, dos sentimentos, das fisicalidades.
Sinto uma necessidade, quase sonífera, de deixar o movimento embriagante de viver passar através do tempo.
O sonho, muitas vezes, nos transporta a lugares onde não existem dúvidas e, a embriaguez, constrói idéias e sentimentos que se transportam da realidade física para o plano dos sonhos.
O encontro entre o sonho e real é o lugar para onde viajam as imaginações, o sentir, o ser.
Costumou-se chamar este lugar de palco da vida; local das representações; espaço onde o homem encontra o homem para ser homem; antro de orgias. Abreviou-se: Teatro.
Neste pequeno recinto à céu aberto, ou não; perambulante, ou não; com ou sem cenário, figurino ou música, há a evasão do tempo. Deixa-se de lado uma das maiores “conquistas” do homem: a construção do tempo. O tempo, em si, não existe. O homem o criou para poder se domar, para regrar o espaço, para tornar-se presa de si e não poder mais viver o mundo pelo mundo, mas, pelo tempo.
Nesta pequena agora, atravessamos o espaço físico experimentando sensações, inventando formas de comunicação acientíficas e descobrindo, cada qual ao seu jeito, a humanidade a tanto perdida pelas civilizações.
Esqueçamos por um breve momento a teoria e a ciência, os teóricos e os cientistas, a positividade da vida moderna, e olhemos para o chão onde pisa o ator. Sintamos o cheiro deste lugar. Fechemos os olhos por um pequeno instante e vejamos aonde nos leva o prazer e o êxtase de pisar este solo sacro para os antigos e cultuado pelos novos.
Teatro: racionalidade e sentimento num mesmo espaço; controle e descontrole de emoções e abstração; psiquè e corpo em perfeita harmonia. Simples brincadeira. Lúdico e cúmplice; amante e amado; fogo e água; a demanda e a espera; o Diabo e cruz. Ator e platéia.
Daqui, cruzo olhar com inúmeros pares de sonhos e vejo a grande necessidade que brota de dentro do indivíduo de sentir melhor o mundo a sua volta, de não ter vergonha, de romper valores e limites, de não se limitar à vida.
Eu aprendi que o Teatro é a melhor representação da não-animalidade urbana do homem, ou seja, da sua animalidade natural, placentária, desprovida de quaisquer valores morais e éticos limítrofes que impeçam o seu desenvolvimento natural, enquanto tal.
Estar no palco é dar vida a crianças adormecidas.
Criança não vê em preto e branco, bidimensional, unilateral. Enxerga grande e gordo o mundo. Colorido.
Chuta poça d`água em dia de sol.
Na ponta do pé pula pra pegar o céu.
Guarda o infinito numa caixa de música, fecha os olhos e é... Criança / Teatro.
Acabado o espetáculo levamos para casa um pouco de cada coisa vista, ouvida e sentida, mas, também, deixamos sentimentos no ator que jogou com o público e ele, certamente, mudará a si próprio dentro do camarim retirando a maquiagem e voltando a ser, humano.
Neste palco muitos pés cresceram; neste palco muitas lágrimas secaram – de ator e de platéia; neste palco o Teatro foi apresentado a muitos pela primeira vez; neste palco muitos fincaram raízes para serem brasileiros; neste palco, vieram e foram; neste palco, prazer e dor; neste palco, desejo de terra e céu; neste palco, pé; neste pé, no palco.
Texto: Otavio Linhares e Solange Faganello
PARABÉNS A TODOS OS FAZEDORES DE TEATRO, QUE DISSEMINAM A CULTURA E FAZEM DA SUA ARTE, SUA BANDEIRA!
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